O Diário de Cuiabá traz, na edição desta quarta-feira (15/12) matéria anunciando greve dos médicos em Várzea Grande a partir da zero hora. Confira abaixo reportagem na íntegra:
Alecy Alves
A partir de hoje a população várzea-grandense que já sofria com a precariedade dos serviços de saúde ficará sem nada. Isso mesmo. Portanto, enganou-se aquele que achava que a situação estava ruim e não poderia piorar. Os médicos do município, cerca de 250, decretaram greve por tempo indeterminado. Os postos de saúde e as policlínicas param de atender. Já o Pronto-Socorro e Hospital Municipal (PSHMVG) implantará um modelo de triagem mais rigoroso do que aquele que vinha sendo praticado há meses.
Somente os pacientes em situação de urgência e emergência serão atendidos. A greve é contra o descumprimento do acordo firmado entre a categoria e a prefeitura de Várzea Grande, que se comprometeu a aumentar o piso salarial dos médicos de R$ 1,3 mil para R$ 1,6 mil a partir de setembro deste ano e não o fez. Os profissionais de saúde também protestam contra o atraso no repasse da verba indenizatória, uma espécie de complementação salarial paga com recursos do Estado.
Até ontem funcionava no PSHMVG um sistema de atendimento por “classificação de gravidade”. A triagem dos pacientes que receberiam assistência médica estava sendo definida por cores. Se a situação se enquadrasse na cor vermelha, um princípio de enfarto, por exemplo, seria levado imediatamente para consulta. Os demais, da cor amarela até a azul, esperariam ser chamados conforme a classificação de urgência feita pelos próprios médicos. Nervoso e revoltado, Josivan Rodrigues Feitosa, marido de Lucilene Aparecida Torres, avaliou o serviço do PSHMVG como um desrespeito ao cidadão.
Lucilene, que há três dias mal consegue caminhar por causa das dores que sente na região uterina, não conseguiu atendimento ontem. “O médico nos disse que só atenderia se ela estivesse grávida ou com hemorragia, sangrando bastante”, contou o marido. “Tenho vontade de quebrar tudo aqui”. Ele disse que sua revolta maior é porque, mesmo pagando tantos impostos, precisava mendigar um socorro.
Jociley Messias, que ontem esteve pela segunda vez no Pronto-Socorro em menos de 24 horas, acha que em Várzea Grande a população está sendo muito maltratada. Com dores no abdômen, na segunda-feira ele conseguiu ser atendido, mas não passou por nenhum exame e recebeu apenas uma injeção de analgésico na veia. Ele disse que até voltou para casa, mas passou a noite em claro, sem dormir por causa das dores e que, por isso, decidiu recorrer mais uma vez ao PS.
OUTRO LADO - No início da tarde de ontem, o diretor geral do PSHMVG, João Betelho, disse que desconhecia a decisão dos médicos e que não havia recebido nenhuma notificação sobre a grave. Entretanto, Botelho avisou que a resposta aos grevistas será à altura do movimento. A prefeitura, disse, cobrará o cumprimento da responsabilidade de manter 30% dos serviços em pleno funcionamento.
“Não vamos aceitar que venham aqui e digam que estão trabalhando, enquanto permanecem com os braços cruzados”, disse. “Nossa resposta será a altura, do jeito que vier voltará”, completou, observando que recorrerá aos meios necessários se for preciso para manter as unidades em funcionamento. A reportagem tentou, mas não conseguiu falar com o secretário municipal de Saúde, Renato Tápias Tetilla.