terça-feira, 25 de janeiro de 2011

TCE suspende 4 contratos da Saúde por suspeita de superfaturamento

Confira reportagem publicada no site Olhar Direto

Da Redação - Pollyana Araújo

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) determinou a suspensão de quatro contratos firmados pela Secretaria de Saúde do Estado, na gestão do ex-secretário Augustinho Moro, com a empresa Medcomerce – Comercial de Medicamentos e Produtos Hospitalares, até que as supostas irregularidades sejam esclarecidas.


De acordo com o conselheiro-relator Humberto Bosaipo, há fortes indícios de risco de sobrepreço no valor dos produtos licitados. “Os preços consignados pelo órgão em exame apresentam variação diferenciada significativa”, apontou o conselheiro, que deu o prazo de 15 dias para que, tanto Augustinho quanto os sucessores e a própria empresa apresentem defesa.

Bosaipo avalia que a maneira como foram conduzidos os processos licitatórios, modalidade Pregão Eletrônico, de números 041/2010, 057/2010, 107/2010 e 112/2010, tende à realização de contratações desvantajosas à administração, com sobrepreço, ferindo os princípios da economicidade e da eficiência, além de contrariar a Lei 8666/93, a chamada Lei de Licitações.

“A consecução do Pregão Eletrônico é passível de causar danos ao erário pela restrição de propostas que otimizem o uso dos recursos destinados à aquisição dos bens almejados pelo órgão, bem como pela passível dificuldade de reparação do dano advindo da não-participação de contingência mais ampla de licitantes”, discorreu o conselheiro-relator, em parte da decisão.

Augustinho Moro deixou a Saúde, tida como o “calcanhar de Aquiles” da administração pública, no final de abril do ano passado logo que o governador Silval Barbosa (PMDB) assumiu o Palácio Paiaguás em substituição a Blairo Maggi, senador eleito pelo PR.


Ele repassou o cargo ao médico Kamil Hussein Fares, que pediu exoneração da pasta depois de curto período, sendo substituído por Augusto Amaral, ex-presidente do MT Saúde. Após esse “rodízio” de secretários, o governador empossou o deputado federal Pedro Henry na secretaria.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Infestação larval da dengue de 6,4% em Cuiabá

Confiram reportagem de hoje do jornal Diário de Cuiabá:

Presença do Aedes aegypti, transmissor da dengue, é de 6,4 imóveis a cada grupo de cem; risco é considerado muito alto


Da Reportagem


O Levantamento de Índice Rápido por Aedes aegypti (Lira) em Cuiabá é de 6,4%, o que representa que a cada 100 imóveis da cidade, 6,4 têm larvas do mosquito transmissor da dengue. O dado confirma a informação divulgada na semana passada pelo Ministério da Saúde que incluiu a cidade na lista das 70 mais preocupantes quanto ao risco muito alto de epidemia da doença (Lira acima de 4%) neste ano.


A incidência da Capital foi revelada ontem pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), com base nas primeiras semanas do ano, dando destaque à região leste da cidade, cujo Lira é de 12,4%. O índice considerado aceitável pelo Ministério é de 1%¨. No último Lira apresentado, em novembro passado, Cuiabá tinha incidência de 3,4%.

Bairros como Dom Aquino, Bela Marina, Praeirinho, Beira-Rio, São Mateus e mais outros 12 são os mais infestados da cidade. A região oeste – bairros como Santa Isabel, Goiabeiras, Cidade Alta, Verdão - tem o segundo maior índice larval, de 7,1%; o terceiro é da região sul, área do Coxipó, com 6,4% de infestação, e por último, a região do Grande CPA, a norte, com 5,8%.

Conforme o relatório da equipe de Vigilância a Saúde e Ambiente de Cuiabá, os principais locais em que as larvas ficam alojadas são os depósitos no nível do solo – caixas d’água, tambores, fontes ou outros depósitos utilizados para o acúmulo de água. O índice de 47,2% das larvas foram encontrados nesses locais.

Outro indicador preocupante é quanto à quantidade de larvas localizadas em meio ao lixo: 26,4%. Tampinhas de garrafa jogadas em qualquer lugar, assim como latas, casacas de ovo, sacos plásticos, vasilhas, calhas, dentre outros, acumulam água suficiente para que o Aedes aegypti coloque lá seus ovos.

De acordo com o diretor do órgão municipal, Benedito Oscar Campos, o aumento do Lira se deve ao período de chuvas. "Os meses de dezembro a março são considerados como período crítico da dengue, por apresentar índice pluviométrico elevado. Já esperávamos este aumento, entretanto estamos trabalhando há mais de oito meses para tentar diminuir este impacto e conscientizar a população a nos ajudar nesta luta".

Mato Grosso também está entre os estados com risco muito alto de epidemia de dengue. O mapa de risco da doença no país, divulgado semana passada, levou em conta dados atualizados do Lira. No total, 16 estados têm risco muito alto de epidemia da doença. Cuiabá é a única cidade de Mato Grosso citada na lista dos 70 municípios prioritários para o controle da dengue no momento.

O secretário municipal de Saúde, Maurélio Ribeiro, determinou intensificação das ações de vistoria e limpeza na cidade e quer também dar visibilidade social ao risco de contaminação para conscientização e prevenção do problema perante a população. (Com assessoria)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

MT e saúde pública sem gerência

Hélcio Corrêa Gomes

Mato Grosso tinha abandonado o político na gerência da saúde. Os últimos administradores estatais não foram improvisados. Embora, cada qual tivesse sua tecnicidade muita distorção persistiu e ficou para ser corrigida. A população nutria continuidade na gerência técnica. Afinal, a conjugação de esforço com prioridade política com o governador e execução com secretário mais técnico deu certo rumo social e potencialidade - dentro das possibilidades. O atual governador inverteu a regra. Retornou ao passado opaco. Impõe na saúde a eloquência política e suspeita de antevéspera. Não devem faltar transportes aos pacientes. Todo restante é que fica na incógnita moral.


Um bom político tem que ter capacidade de unir e render o menos possível às pressões (chantagens partidárias). Afinal, a farra com as coisas públicas, depois lhe cai na costa e deixa cicatriz feia. Não pode se esvaziar nunca do conteúdo (responsabilidade). E prescindir da instrumentalidade. A técnica é mais que o instrumental e ganha densidade histórica expressiva. O técnico tem que ser político e o político apenas político. Um tem dever de ser ponto de encontro da mediação da macro e micrológica (administrar e opção de como fazer). Outro ter sensibilidade e abranger o Estado. Não se restringir ao possível, mas fazer o desenvolvimento social - desejado.

A perspectiva da saúde pública apenas política não é animadora ao cidadão comum. Parece ser pré-condição para se manter a rede de saúde complexa na ineficiência. Quiçá no dever estranho de saber fazer bem o que não se deve e não pode fazer legalmente. Tal como patrocinar ou fomentar gastos com ambulâncias caras e impróprias (não equipadas). O prêmio atual que tenta obliterar a falha anterior, que se faz governativamente, causa um calafrio. Estarrece. Tal qual desmanchar com os pés o que foi construído com as mãos - calejadas.

O técnico é quem sabe fazer. O saber dos ofícios. São os braços e pensamento produzindo. Essa ideia maravilhosa ficou congelada no governo estadual. Agora se reelabora aqui a noção antiga de não valorar a capacidade técnica e retribuir a camaradagem econômica e política partidária, que utiliza apenas da técnica de retórica, assim como o ilusionista que trapaceia a gente com mãos hábeis e ganha o jogo imediato e perdemos todos nós. A tecnicidade da combalida saúde local situa doravante como um cérebro sem informação. Torna-se um encontro do espaço político e do vazio produzido. Nenhum plano ou ideia inovadora. Tudo tende a ser realizado, se for algo produzido, por cópias, simulações ou experimentações, que não distinguem sequer as sombras e realidades. É, talvez, o pensar apavorante da saúde coletiva (já caótica e sofrida) sem plano estratégico ou lógico-matemático. Nada tem de potencial filosófico ou decidido magnanimamente. Tudo revela um desastre de governo setorial (pré-anunciado).

Há visível defesa minúscula dos interesses partidários e indizíveis. Ação destemperada e de coloração frágil na saúde e com consequências nefastas ao Estado, cuja justificativa mais plausível tão somente pode ser a inconcebível rendição incondicional do vencedor aos vencidos. Algo inacreditável no direito de guerra ou diplomático. Ao povo as batatas e esperanças políticas de ambulâncias ao menos desta vez com colchões. E cintos para amarração técnica dos acidentados ou enfermos. Os apetrechos de oxigênio e cardiológicos e outros depois a gente ajuda a reequipar (por entidades civis filantrópicas) e que a contabilidade pública faça àquelas tradicionais vistas grossas na fiscalização marota. E que o Eterno, ajude a todos no futuro pelas mãos do Ministério Público.

Hélcio Corrêa Gomes é advogado e diretor tesoureiro da Associação dos Advogados Trabalhista de Mato Grosso (Aatramat) e consultor da Comissão Nacional de Direitos Sociais da OAB Federal. E-mail: helciocg@brturbo.com.br

Ficha limpa na Saúde

* Carlos Alberto de Almeida


Iniciamos em 2011 um novo ciclo político e renova-se a indicação de nomes para cargos de confiança. Como presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Federais de Mato Grosso (Sindsep-MT) e servidor da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) venho, junto com nossa diretoria, manifestar nosso empenho para que os órgãos federais não fiquem a mercê de políticos que engessam seu funcionamento com corrupção e usam os cargos como trampolim eleitoreiro. Direcionamos nosso olhar principalmente para o Ministério da Saúde, Funasa e Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei’s).

Nós, servidores concursados e sindicalistas, estamos atentos e combativos aos políticos fichas sujas que muito envergonham o nome da Funasa, que tem como trabalho fim o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida da população, sobre tudo a indígena. Não temos medos dos partidos que estão no estrelato do cenário nacional e nem dos velhos caciques de Mato Grosso.

Recentemente, o jornal Folha de São Paulo divulgou dados da Controladoria Geral da União (CGU) que estima que os desvios da Funasa cheguem em quase R$ 500 milhões. Vamos combater essas ações e queremos gente que trabalhe e esteja qualificada para gerir uma plataforma que está na frente do saneamento básico e da saúde de nosso povo.

Não dá para acreditar, mas é assim que a Funasa vem sendo maculada. O órgão está sob comando do PMDB desde 2005 e é o principal alvo do partido na guerra por cargos no segundo escalão do governo Dilma. Segundo levantamento feito pela Folha mostra que a CGU pediu a devolução de R$ 488,5 milhões aos cofres da Funasa entre 2007 e 2010. O prejuízo ainda deve subir após novos cálculos do TCU (Tribunal de Contas da União), que atualiza os valores ao julgar cada processo.

De acordo com os relatórios, o dinheiro teria sumido entre convênios irregulares, contratações viciadas e repasses a Estados e prefeituras sem a prestação de contas exigida por lei. A pesquisa somou as quantias cobradas em 948 tomadas de contas especiais instauradas nos últimos quatro anos. As investigações começaram no Ministério da Saúde, ao qual a Funasa é subordinada, e foram referendadas pela CGU.
O volume de irregularidades que se repetem atrasa a tentativa de recuperar o dinheiro, e os processos não têm prazo para ser julgados pelos ministros do TCU. Além das auditorias, balanço feito pela controladoria a pedido da reportagem aponta a existência de 62 processos simultâneos contra a direção da Funasa.

Por esse volume nacional e pelas irregularidades que conhecemos em nossas terras mato-grossenses, vamos ser vigilantes e cobrar que a Funasa tenha a legitimidade e autonomia para que não seja uma instituição “laranja” desses desvios que afrontam a população.

*Carlos Alberto de Almeida é presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Federais de Mato Grosso (Sindsep-MT)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A saúde na UTI, o que fazer? - 2

Nesta quinta-feira (13-01), o jornal A Gazeta publica segunda parte do artigo de Nei Moreira, neurologista membro do MSD

Nei Moreira

Os problemas da saúde pública têm solução? Parece-me que sim, mas tem um custo elevado financeira e politicamente. Assim, é necessário um plano de adequação (inclusive expansão) da rede publica para torná-la capaz de suportar a demanda e organizá-la regionalmente, para evitar-se a concentração de pacientes em Cuiabá. Para tal, Cuiabá necessita suporte financeiro dos cofres do Estado e da União, ambos devedores de tal obrigação há muito tempo. Afinal, o "esqueleto" do Hospital Central do Estado assombra a região do CPA há 35 anos pelo menos! Recentemente o governo do Estado decidiu concluí-lo, mas como prédio administrativo para o conforto da burocracia, enquanto o povo fica empilhado nos prontos-socorros de Cuiabá e Várzea Grande. Quando entrará em funcionamento o Hospital Metropolitano de Várzea Grande? Onde está também o prometido Hospital da Criança, prometido de pés juntos por tantos políticos quando candidatos, mas rapidamente esquecido quando eleitos? Onde foram parar as promessas de fazer funcionar uma unidade de alta complexidade com a aquisição de hospitais particulares fechados em nossa cidade? E quando a dengue explodir, o que infelizmente parece inevitável dado a insuficiências das atividades de prevenção, vai-se improvisar novamente "leitos para dengue" em estruturas adaptadas às pressas?







Outro ponto fundamental é a questão de recursos humanos, com a construção de carreiras de estado para profissionais da saúde e a criação de um novo quadro de servidores, remunerando-os condignamente, estipulando metas de produtividade quantitativa e qualitativa, garantindo-se ascensão, progressão e educação continuada, mas em contrapartida controlando-se eficazmente assiduidade, pontualidade, cumprimento de jornada, humanização no atendimento, enfim comprometimento com o serviço público.






A contratação de serviços privados deverá ter caráter complementar como já preconiza o SUS e ser refeita em novas bases contratuais, ajustando-se os patamares de remuneração, mas estabelecendo-se um rígido controle dos procedimentos a serem realizados, incluindo o absoluto controle dos leitos pela Regulação. Esse controle hoje é quase nenhum e os pacientes são internados de acordo com a aceitação (ou não) por parte do hospital contratado. As listas de espera devem ser publicizadas e controladas pelos gestores, usuários, Conselhos Estadual e Municipais de Saúde, Ministério Público, Defensoria e outros órgãos controladores.






Obviamente, mudanças desse porte, como já dissemos, terão alto custo financeiro e político. No entanto, se nunca antes na história desse País se gastou tanto com o social, como se alardeia aos quatro cantos, chegou a hora da saúde ter recursos necessários. O desafio é dobrar - repito dobrar - os recursos federal e do estado destinado para a saúde! Pois não vamos gastar bilhões em obras para a Copa do Mundo? Ou o futebol é mais importante que a saúde do nosso povo? O que se gastou demolindo o Verdão e vai se gastar para construir a Arena Pantanal e adequações da "mobilidade urbana" dava e sobrava para fazer as obras necessárias para revolucionar-se a saúde em Cuiabá e Mato Grosso.






Quanto ao ônus político de mudar os atuais paradigmas de trabalho na saúde pode constituir-se em desgaste junto a alguns setores e corporações, mas poderá reverter o atual cenário caótico e beneficiar toda a nossa sociedade. O seu executor tornar-se-á um benfeitor do nosso povo e certamente não será esquecido por ele. Porém, haverá coragem e disposição para isso?






Nei Moreira da Silva é médico neurologista, professor da Faculdade de Ciências Médicas da UFMT. Foi secretário estadual de Saúde de Mato Grosso, secretário adjunto de Saúde de Cuiabá, presidente da Associação Médica de Mato Grosso, do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso e diretor do Conselho Federal de Medicina

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Prefeito de Cuiabá anuncia mais de mil demissões na Saúde e Ação Social

A informacao está no jornal Folha do Estado desta quarta-feira, 12 de janeiro de 2.011.

Silnara Alvares

O prefeito Chico Galindo anunciou demissões para cerca de mil funcionários que atuam na área da Saúde e de Assistência Social de Cuiabá. Conforme o prefeito as demissões serão feitas como forma de corte no orçamento e serão realizadas, de fato, após a entrega de relatórios com o número de funcionários e as respectivas funções dessas pessoas em cada unidade de saúde da cidade.
A Secretaria Municipal de Saúde possui, no total, 2.984 funcionários prestadores de serviços, não concursados, que incluem médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem.
De acordo com o prefeito, no próximo sábado, dia 15 de janeiro, a administração do Pronto-Socorro de Cuiabá deve entregar o relatório à prefeitura (lotacionograma) da unidade. Em posse do documento será realizado uma análise para verificar a possibilidade demissões naquela unidade.
Ele afirmou que o temor quanto ao caos na saúde pública é desnecessário, já que não haverá demissões de médicos. “Mas se o Pronto-Socorro comprovar, por exemplo, que existe uma falta de pessoal, aí vamos ter que contratar ao invés de demitir”, ponderou.
Galindo admitiu que esta não é uma boa notícia para a cidade, mas garante que os serviços não serão prejudicados por causa das demissões que devem ocorrer ainda este ano. As principais demissões devem ocorrer nos serviços gerais das unidades. “É um processo de readequação. E garanto que não haverá prejuízos no atendimento”, afirmou. Galindo afirmou que em alguns Postos de Saúde da Família, PSF, existem quatro auxiliares de enfermagem trabalhando, neste caso, um profissional seria demitido.
ASSISTÊNCIA SOCIAL

As demissões, segundo ele, atingiram, principalmente, as áreas de Saúde e de Assistências Social que possuem grande parte dos contratos temporários do município.


O prefeito não especificou quantos servidores de cada pasta deverão ter os contratos cancelados pela gestão.

















A saúde na UTI, o que fazer? - Parte 1

O jornal A Gazeta publica hoje (12-01) artigo assinado pelo neurologista Nei Moreira, membro da Comissão Executiva Provisória do MSD


Nei Moreira da Silva


A virada do ano sempre traz para todos nós a esperança de que as coisas melhorem. Esta passagem de 2010 para 2011 teve uma dose maior de expectativas devido às mudanças de governo federal e dos estados, ainda que, em sua maioria, os cenários políticos permaneçam os mesmos.


Em Cuiabá, terminamos 2010 com mais um registro trágico de ineficiência de nosso sistema de saúde, com a morte de cinco recém-nascidos em 15 dias na UTI neonatal do Pronto-Socorro de nossa cidade. Inúmeros veículos de comunicação registraram o fato e o jornal A Gazeta, em editorial abordando essa longa crise que atinge o setor saúde em Mato Grosso, questionou: "o que falta para resolver este problema crônico?". Trata-se de uma pergunta cuja resposta aparenta ser fácil na teoria, mas que na hora de se por em prática as medidas necessárias à correção dos vícios existentes, as soluções pretendidas tem desafiado sucessivos gestores, não só do município, mas também das esferas estadual e federal, independente de seu matiz ideológico ou partidário.


O Sistema Único de Saúde é baseado em princípios que fundamentalmente significam respeito à pessoa humana e representa um enorme avanço que toda a sociedade deve defender. No entanto, o que se assiste de há muito é uma permanente e grave crise focada notadamente na assistência médica, em especial de média e alta complexidade, pois é onde o impacto das carências é mais diretamente sentido pelo cidadão, materializadas nas longas esperas para conseguir consultas e exames especializados e de vagas para internações, especialmente para cirurgias. São as famosas "filas da morte", com por vezes são chamadas. Tais "filas" surgem do descompasso entre, de um lado, o constante e progressivo aumento da demanda por atendimento, e de outro lado a insuficiente oferta de serviços pelo SUS, que em nosso meio não dispõem de uma rede pública própria com dimensão, qualidade e capacidade de produção de serviços capazes de suprir as necessidades da população.


Além disso, a produtividade dessas unidades é muito baixa, devido, entre outros fatores, aos salários ofertados aos seus profissionais, muito aquém do pretendido, especialmente pelos médicos especialistas. Dessa forma, eles não são atraídos para trabalhar no setor público, preferindo atuar no setor privado, onde tem maiores ganhos e não são submetidos a mecanismos de controle. Some-se a isso graves problemas gerenciais que fazem com que os custos da rede pública sejam habitualmente muito elevados, com o dinheiro esvaindo-se pelos conhecidos ralos de desperdício, corrupção, ineficiência e gestões politiqueiras amadoristas e pouco comprometidas com a supremacia do interesse público.


Não dispondo de rede própria, só resta ao SUS contratar serviços da rede privada, que é o modelo atualmente prevalente em nosso Estado, cujos resultados insatisfatórios são os que agora observamos. Essa relação entre SUS e prestadores privados sempre foi tormentosa, pois os valores de remuneração dos serviços prestados são historicamente apontados pelos empresários como insuficientes queixando-se eles ainda dos mecanismos de controle impostos pelo SUS ("excessivos", no seu dizer). Do lado dos gestores públicos, as queixas também são permanentes, acusando os hospitais contratados de praticarem seleção de pacientes (os casos mais graves são de difícil aceitação pelos hospitais, pois tem maiores custos) e da prática de diversas irregularidades especialmente nas cobranças. Enfim, de lado a lado as queixas se sucedem e se avolumam.


Nei Moreira da Silva é médico neurologista, professor da Faculdade de Ciências Médicas da UFMT. Foi secretário estadual de Saúde de Mato Grosso, secretário adjunto de Saúde de Cuiabá, presidente da Associação Médica de Mato Grosso, do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso e diretor do Conselho Federal de Medicina

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

SAÚDE NA UTI. O QUE FAZER?

A virada do ano sempre traz para todos nós a esperança de que as coisas melhorem. Esta passagem de 2010 para 2011 teve uma dose maior de expectativas devido as mudanças de governo federal e dos estados, ainda que, em sua maioria, os cenários políticos permaneçam os mesmos.


Em Cuiabá terminamos 2010 com mais um registro trágico de ineficiência de nosso sistema de saúde, com a morte de 5 recém-nascidos em 15 dias na UTI neonatal do Pronto-Socorro de nossa cidade. Inúmeros veículos de comunicação registraram o fato e um deles, em editorial abordando essa longa crise que atinge o setor saúde em Mato Grosso, questionou; “o que falta para resolver este problema crônico?”. Trata-se de uma pergunta cuja resposta aparenta ser fácil na teoria, mas que na hora de se por em prática as medidas necessárias à correção dos vícios existentes, as soluções pretendidas tem desafiado sucessivos gestores, não só do município mas também das esferas estadual e federal , independente de seu matiz ideológico ou partidário.

O Sistema Único de Saúde é baseado em princípios que fundamentalmente significam respeito à pessoa humana e representa um enorme avanço que toda a sociedade deve defender. Assim, no SUS todos incondicionalmente e não apenas alguns, têm direito a serem beneficiados por ações de promoção, prevenção e assistência, devendo ser atendidos em todas suas necessidades, variando desde uma simples orientação em uma unidade básica até um procedimento de alta complexidade e elevado custo em um hospital especializado.

No entanto, o que se assiste de há muito é uma permanente e grave crise focada notadamente na assistência médica , em especial de média e alta complexidade, pois é onde o impacto das carências é mais diretamente sentido pelo cidadão , materializadas nas longas esperas para conseguir consultas e exames especializados e de vagas para internações , especialmente para cirurgias. São as famosas “ filas da morte”, com por vezes são chamadas. Tais “filas” surgem do descompasso entre, de um lado, o constante e progressivo aumento da demanda por atendimento, motivado por vários fatores, tais como o crescimento da população, a ineficácia das políticas de promoção e prevenção e da atenção básica, o aumento da violência urbana, etc, e de outro lado a insuficiente oferta de serviços pelo SUS, que em nosso meio não dispõem de uma rede pública própria com dimensão, qualidade e capacidade de produção de serviços capazes de suprir as necessidades da população. As que existem são habitualmente acanhadas e desprovidas de equipamentos e de profissionais em quantidade adequadas , especialmente em determinadas especialidades .

Além disso, a produtividade dessas unidades é muito baixa, devido, entre outros fatores, aos salários ofertados aos seus profissionais , muito aquém do pretendido, especialmente pelos médicos especialistas. Dessa forma, eles não são atraídos para trabalhar no setor público, preferindo atuar no setor privado, onde tem maiores ganhos e não são submetidos a mecanismos de controle, mesmo aos atuais, sabidamente frágeis quanto a assiduidade, pontualidade e humanização no atendimento. Tentar controlar isso é “mexer em vespeiro” e recentemente foi causa de sérios confrontos em Cuiabá . Some-se a isso graves problemas gerenciais que fazem com que os custos da rede pública sejam habitualmente muito elevados, com o dinheiro esvaindo-se pelos conhecidos ralos de desperdício, corrupção, ineficiência e gestões politiqueiras amadoristas e pouco comprometidas com a supremacia do interesse público. Basta olhar o cenário dos Hospitais Regionais do Estado para entender o que se passa !!!

Não dispondo de rede própria, só resta ao SUS contratar serviços da rede privada, que é o modelo atualmente prevalente em nosso Estado, cujos resultados insatisfatórios são os que agora observamos . Essa relação entre SUS e prestadores privados sempre foi tormentosa, pois os valores de remuneração dos serviços prestados são historicamente apontados pelos empresários como insuficientes queixando-se eles ainda dos mecanismos de controle impostos pelo SUS (“excessivos”, no seu dizer ). Do lado dos gestores públicos, as queixas também são permanentes, acusando os hospitais contratados de praticarem seleção de pacientes (os casos mais graves são de difícil aceitação pelos hospitais pois tem maiores custos ) e da prática de diversas irregularidades especialmente nas cobranças . Enfim, de lado a lado as queixas se sucedem e se avolumam.

Tais problemas têm solução? Parece-me que sim, mas tem um custo elevado financeira e politicamente.

Assim, é necessário construir um plano de adequação (inclusive expansão) da rede publica para torná-la capaz de suportar a demanda e organizá-la regionalmente, para evitar-se a concentração de pacientes em Cuiabá. A capital tem o dever de além de atender sua própria demanda, servir de referencia estadual e macrorregional para os casos de alta complexidade, pois a interiorização de profissionais de muitas especialidades ainda é incipiente em nosso Estado. Para tal, Cuiabá necessita suporte financeiro dos cofres do Estado e da União, ambos devedores de tal obrigação há muito tempo. Afinal, o “esqueleto” do Hospital Central do Estado assombra a região do CPA há 35 anos pelo menos !!! Recentemente o governo do Estado decidiu concluí-lo, mas como prédio administrativo para o conforto da burocracia, enquanto o povo fica empilhado nos Pronto - Socorros de Cuiabá e Várzea Grande. Quando entrará em funcionamento o Hospital Metropolitano de Várzea Grande? Espera-se que não tenha o mesmo fim do Hospital Central !!!! Onde está também o prometido Hospital da Criança, jurado de pés juntos por tantos políticos quando candidatos, mas rapidamente esquecido pelos eleitos, após os primeiros estudos sobre as despesas de seu custeio? Onde foram parar as promessas de fazer funcionar uma unidade de alta complexidade com a aquisição de hospitais particulares fechados em nossa cidade ? E quando a dengue explodir, o que infelizmente parece inevitável dado a insuficiências das atividades de prevenção, vai-se improvisar novamente “leitos para dengue” em estruturas adaptadas às pressas?

Outro ponto fundamental é a questão de recursos humanos, com a construção de carreiras de estado para profissionais da saúde e a criação de um novo quadro de servidores , remunerando-os condignamente, estipulando metas de produtividade quantitativa e qualitativa, garantindo-se ascensão, progressão e educação continuada mas em contrapartida controlando-se eficazmente assiduidade, pontualidade, cumprimento de jornada, humanização no atendimento, enfim comprometimento com o serviço público.

A contratação de serviços privados deverá ter caráter complementar como já preconiza o SUS e ser refeita em novas bases contratuais, ajustando-se os patamares de remuneração mas estabelecendo-se um rígido controle dos procedimentos a serem realizados, incluindo o absoluto controle dos leitos pela Regulação. Esse controle hoje é quase nenhum e os pacientes são internados de acordo com a aceitação (ou não) por parte do hospital contratado. As listas de espera devem ser publicizadas e controladas pelos gestores, usuários, Conselhos Estadual e Municipais de Saúde, Ministério Público , Defensoria e outros órgãos controladores.

Obviamente, mudanças desse porte, como já dissemos, terão alto custo financeiro e político. No entanto, se nunca antes na história desse País se gastou tanto com o social, como se alardeia aos quatro cantos, chegou a hora da saúde ter recursos necessários. O desafio é dobrar – repito DOBRAR – os recursos federal e do estado destinado para a saúde!!!! Pois não vamos gastar bilhões em obras para a Copa do Mundo? Ou o futebol é mais importante que a saúde do nosso povo???? O que se gastou demolindo o Verdão e vai se gastar para construir a Arena Pantanal e adequações da “mobilidade urbana”, dava e sobrava para fazer as obras necessárias para revolucionar-se a saúde em Cuiabá e Mato Grosso.

Quanto ao ônus político de mudar os atuais paradigmas de trabalho na saúde, pode constituir-se em desgaste junto a alguns setores e corporações, mas poderá reverter o atual cenário caótico e beneficiar toda a nossa sociedade. O seu executor tornar-se-á um benfeitor do nosso povo e certamente não será esquecido por ele. Porém, haverá coragem e disposição para isso?

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Seis leitos de UTI interditados por falta de equipamentos não seria má gestão?

Na semana passada fomos surpreendidos com a notícia da morte de cinco crianças na UTI Neonatal do Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá. A alegação era de que as mortes poderiam ter sido causadas por uma tal bactéria. Hoje, matéria da Folha do Estado afirma que seis leitos da mesma UTI não estão funcionando por falta de equipamentos. A denúncia é do presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Arlan Azevedo Ferreira e, no mínimo, revela que está havendo problemas de gestão no SUS/Cuiabá já que 60% da UTI estaria paralisada por falta de manutenção dos equipamentos.
Movimento Saúde e Democracia

Seis leitos de UTI do Pronto Socorro de Cuiabá não funcionam por falta de aparelhagem

A constatação foi feita pelo Conselho Regional de Medicina (CRM/MT) segundo reportagem de hoje (05/01) do jornal Folha do Estado. Confira o texto na íntegra:

Laura Petráglia

Depois de cinco mortes de recém-nascidos prematuros em 15 dias, e de ficar interditada por três dias por conta de uma suspeita de infecção, a UTI Neonatal do Pronto-Socorro de Cuiabá passou por uma vistoria de dois médicos que fazem parte do Conselho Regional de Medicina (CRM). Constatou-se que dos 10 leitos disponíveis, apenas quatro funcionam, por falta de aparelhagem. De acordo com presidente do CRM, Arlan Azevedo, no aspecto ligado à infecção, o ambiente está dentro do padrão estabelecido pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para leitos de Unidades de Terapia Intensiva, porém sem todos funcionado.


“Verificamos que em relação ao risco de infecção, todas as normas da Anvisa estão sendo seguidas. Porém o não funcionamento de mais da metade dos leitos é uma irregularidade tão grave quanto. Verificamos que os leitos foram desativados por falta de equipamentos simples como respirador, umidificador que estragaram e não foram repostos. Coisas simples que podiam ser resolvidas chegaram a esse ponto de prejuízo para a população. Vamos enviar o relatório da vistoria para superintendência do pronto-socorro para que tome providências. Paralelo a isso vamos enviar o mesmo relatório para Secretaria de Estado de Saúde e para o Ministério Público”, disse.



Toda polêmica em torno do pronto-socorro começou com as mortes de cinco recém-nascidos que estavam na UTI do local. Os óbitos foram registrados entre 18 e 26 de dezembro, segundo o Conselho Regional de Medicina de Medicina de Mato Grosso, CRM. A suspeita é de que três dessas crianças tenham morrido em decorrência de uma bactéria conhecida como ‘Estafilo Coagulasse Negativo’, mas apenas em uma morte foi confirmada por esta bactéria.

O médico infectologista e coordenador da comissão de controle hospitalar do PS, Luciano Correia Ribeiro, explicou em entrevista recente que em uma dessas crianças a bactéria foi identificada no sangue, o que certamente foi a causa da morte. Nos outros dois bebês a bactéria foi encontrada em culturas na pele e ainda estão sendo investigadas. Em cerca de 10 dias será possível saber a causa dos óbitos. Conforme o infectologista, não é possível afirmar que, nestes dois casos, as crianças tenham morrido em decorrência da bactéria pois já apresentavam doenças de base e foram transferidas de unidades do interior.

Cartilha do Usuário do Sus