quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Após nota baixa, Unic demite diretores de faculdade.

Estudantes cancelam a paralisação, mas continuam cobrando melhorias no curso da instituição.


MIDIANEWS / KATIANA PEREIRA
Os médicos e professores Marcial Francis Galera e Pedro Reis Crotti, diretor e vice-diretor, respectivamente, foram desligados do quadro de funcionários do curso de Medicina Universidade de Cuiabá (Unic). A demissão ocorreu na semana passada e foi confirmada pelo Centro Acadêmico de Medicina João Alberto Novis (Cajan). A reitoria da universidade não dá entrevista e se recusa a falar sobre o assunto.

Os acadêmicos interpretaram que as demissões soam como uma medida de retaliação, devido à nota 2, considerada insuficiente, obtida pelo curso de graduação dem Medicina, na avaliação do Conceito Preliminar de Curso (CPC) do Ministério da Educação, conforme MidiaNewsrevelou.

Os estudantes também acredita que as denúncias que eles fizeram, sobre a baixa qualidade do ensino na instituição, também provocaram a demissão dos diretores.

O médico Marcelo Sepúlveda, que já faz parte da equipe de coordenação do curso, foi promovido ao cargo de diretor da Faculdade de Medicina. O presidente do Cajan, Igor Carlos Dueti, contou que uma reunião foi realizada na segunda-feira (27), com participação da nova diretoria e de alunos. Também esteve presente um dos diretores do grupo Kroton-Iuni, que controla a Unic.

"A reunião foi interessante. Estamos elaborando as nossas reivindicações, conversando com alunos. Nos garantiram que, primeiramente, irão atender às recomendações do MEC e, depois, as nossas. Não abrimos mão da retratação, que deverá ser feita pela faculdade", disse o estudante.

Os alunos decidiram ainda cancelar a paralisação de 24 horas que haviam prometido fazer, no Hospital Geral Universitário. O protesto estava agendado para essa quarta-feira (30), mas, devido ao desenrolar das negociações, os estudantes deram um voto de confiança para nova direção.

"Não queremos tumultuar o câmpus. Achamos que não tem necessidade de paralisar atividades, mas, caso as promessas não sejam cumpridas, vamos sim, protestar. Merecemos respeito, educação de qualidade e vamos lutar por isso", disse Igor Dueti.

Notas baixas e mensalidade alta.

Em uma nota enviada ao MidiaNews, no mês passado, para tentar contestar o resultado da avaliação do MEC - divulgado nos principais veículos de Comunicação do país -, a Unic alegou que a nota obtida no CPC (Conceito Preliminar de Curso) "não reflete apenas os investimentos em infraestutura, recursos didáticos pedagógicos e corpo docente realizados pela Unic, mas também o desempenho dos alunos no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes)".

Os alunos se revoltaram e exigiram uma retratação da instituição. "O desempenho dos alunos é somente 30% da nota, os outros 70% são de responsabilidade da instituição. O grande problema da Unic é que existe no câmpus uma educação totalmente capitalista e somos mais um número, uma soma de valores. A instituição tem se esquecido da responsabilidade social que o curso tem", disse Igor Dueti, em entrevista ao site, na semana passada.

O curso de Medicina na Unic foi autorizado pelo MEC em 2004 e tem duração de 12 semestres, com 8.640 horas aula.

O valor da mensalidade é R$ 4.308,86. Caso o estudante pague até o dia 5 de todo mês, terá um desconto de 6%, e o valor vai para R$ 4.050,33, conforme divulgado no site da instituição.

Sanções.

O curso de Medicina da Unic obteve nota 2 no Conceito Preliminar de Curso. Por esse motivo, 58 vagas para o próximo vestibular foram cortadas.

O curso, que oferecia 100 vagas, agora, depois da determinação do MEC, passará a oferecer 42 vagas. Para os alunos que já estão matriculados, não haverá nenhum prejuízo quanto à conclusão da graduação.

Além disso, foi instaurado um processo específico de supervisão, cujo objeto será o curso de graduação em Medicina. Dentro de 30 dias, a contar da ciência do despacho, a Unic deverá comprovar, por meio de documentos probatórios, as providências adotadas, como forma de cumprir as medidas cautelares administrativas impostas pelo MEC.
Caso haja o não cumprimento, ou falta de comprovação das adequações determinadas no despacho, será instaurado processo administrativo para aplicação de penalidade, prevista nos arts. 46, § 1º, da Lei nº 9.394/96, 10, § 2º da Lei nº 10.861/2004 e 52 do Decreto nº 5.773/2006.

Usuários do SUS têm 3,8 vezes menos médicos do que o setor privado.

Estudo feito em conjunto pelo Conselho Federal de Medicina e pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo mostra quem, além da concentração no setor privado, os médicos estão, na grande maioria, localizados nas regiões Sul e Sudeste.

Por: Jones Rossi
Fonte: Veja.com
Uma pesquisa inédita, realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo Conselho Regional de Medicina do estado de São Paulo (Cremesp), mostra quem são, quantos são, e como estão distribuídos pelo país os médicos brasileiros. O estudo — Demografia Médica no Brasil — mostra dados negativos, como a concentração de médicos nas regiões Sul e Sudeste e nas capitais dos estados e o reduzido número de profissionais que trabalha no Sistema Único de Saúde (SUS), mas também traz notícias como a crescente presença feminina e o aumento proporcional da quantidade de médicos no país. Outra informação do documento evidencia com números um aspecto ja conhecido do brasileiro: usuários do sistema Único de Saúde (SUS) têm 3,8 vezes menos médicos do que o setor privado.

Os dados do estudo serão enviados a parlamentares e entregues aos ministros da educação, Fernando Haddad, e da saúde, Alexandre Padilha. A intenção é que o documento sirva de subsídio para políticas públicas de saúde e de ensino. “A publicação coincide com o surgimento de propostas do governo federal e do poder legislativo para enfrentar a escassez de médicos em áreas desassistidas”, afirma Renato Azevedo Junior, presidente do Cremesp.

A desigualdade regional é um dos principais problemas mostrados pelo estudo. A rigor, não faltam médicos no Brasil. São 371.788 para uma população de 190 milhões de pessoas. O que resulta em um número de médicos para cada mil habitantes de 1,91. A Organização Mundial da Saúde (OMS) não adota um número específico de médicos por mil habitantes, mas, segundo o documento World Health Report 2006, países com menos de 2,28 profissionais de saúde por mil habitantes (e aí estão incluídos médicos, enfermeiras e parteiras) geralmente têm problemas em atingir a meta de 80% de cobertura especializada para vacinação e partos. Com 1,5 milhão de enfermeiros, certamente o Brasil está dentro do recomendado.

Além disso, o número de profissionais não para de crescer em números absolutos e em proporcionais. Entre 1970 e 2010 houve um salto de 530% no número de médicos, enquanto a população cresceu bem menos, 104,8%. O problema é que a maioria está concentrada nos estados da região Sul e Sudeste. Enquanto no Distrito Federal e no Rio de Janeiro essa razão seja de 4,02 e 3,57 médicos por mil habitantes, respectivamente, acima dos 3,4 da Alemanha, estados como o Maranhão, o Pará e o Amapá estão abaixo do preconizado pela OMS, com índices de 0,68; 0,83; e 0,96; próximos de países africanos. No total, a região Norte possui 0,96 médico por mil habitantes e o Nordeste 1,19. A situação é parecida no Centro-Oeste, com 1,99, e no Sul, 2,03. O Sudeste tem um índice de 2,61.

O interior dos estados também está em desvantagem em comparação com as capitais. Mesmo no Maranhão, onde o índice do estado é de 0,68 médico por mil habitantes, na capital a razão salta para 2,33. Segundo o estudo, isso acontece devido ao maior número de faculdades localizadas nas capitais e também ao maior número de postos de trabalho, já que essas cidades concentram hospitais, postos de saúde, clínicas e laboratórios. Essas facilidades fazem com que o índice de médicos por mil habitantes nas capitais brasileiras seja de 4,22, mais de uma vez superior à média nacional, de 1,95.

SUS versus setor privado — De acordo com a pesquisa, existem 354.536 postos de trabalho em estabelecimentos privados de saúde para atender 46,6 milhões de usuários de planos de saúde. Seguindo essa conta, que considera o fato de que, em teoria, esses postos médicos (um médico pode ter mais de um posto de trabalho, atendendo em um hospital público e em uma clínica privada, por exemplo) podem atender usuários de todos os planos de saúde, o estudo afirma que há 7,6 postos de trabalho para cada 1.000 usuários de planos de saúde. Em comparação, o Sistema Único de Saúde, com 281.481 postos de trabalho para 144 milhões de pessoas, tem um índice de 3,8 vezes menor que o setor privado.

Mudança de perfil — Em 1910, 22% dos médicos eram mulheres. Cem anos depois, as mulheres representam quase 40% do total. Mas a tendência é que, em breve, elas ultrapassem os colegas do sexo feminino. Desde 2009, as mulheres são a maioria dos novos médicos que entram no mercado de trabalho. Em 2010, representaram 52,46% desse total.

Entre os profissionais com menos de 29 anos, elas também são maioria: 53,31%. Nos acima dos 70 anos, apenas 18,08% são mulheres. Um sinal da profunda mudança que aconteceu nas últimas décadas e que deve se aprofundar nos próximos anos.

Cartilha do Usuário do Sus