Site: RD News / Jackelyne Pontes
Em Mato Grosso, a saúde pública enfrenta situação de caos, o que infelizmente não é muito diferente do resto do Brasil. De um lado, gestores com pouca vontade política, levando em consideração interesses pessoais ou de suas legendas políticas, de outro profissionais insatisfeitos, que não são valorizados devidamente, em um processo de sofrimento profissional. Quem paga a conta e vive as consequências desse quadro é a população usuária, que enfrenta esta crise de frente.
As verbas destinadas à saúde são insuficientes e, para concluir isso, não é preciso ser nenhum estudioso do assunto, e ainda sim esta sofre ataque corrosivo de dois fatores: desvio e corrupção, resultado de uma má gestão com prejuízos astronômicos.
O princípio da integralidade no Sistema Único de Saúde (SUS) deveria ser respeitado. Entende-se integralidade não somente como um conceito, em que os sujeitos são atendidos em sua totalidade, mesmo que esta não seja alcançada em sua plenitude. Integralidade é mais que uma diretriz do SUS, é uma bandeira de luta a ser defendida por gestores, trabalhadores e usuários, segundo reza a Constituição Brasileira de 1988.
Segundo pesquisas, cerca de um quarto (25%) da população recorre a planos privados de saúde para que possam ser atendidos em suas necessidades, suprindo assim a deficiência do sistema público. Isso é um absurdo. A iniquidade gerada pela má administração dos recursos da saúde, assim, atinge os pobres, aqueles que não podem arcar com esse tipo de despesa. E, na contramão desse fato, diariamente nos deparamos com notícias de corrupção, desvio de verbas e construção de obras faraônicas, que, inacabadas, tornam-se elefantes brancos, uma espécie de monumento à má gestão, esfregando na cara do usuário, diariamente, a falta de planejamento e de conhecimento por parte dos governantes e de seus escolhidos.
Um exemplo de caos instalado é o Pronto Socorro Municipal de Cuiabá, que sofre com a falta de estrutura e foi local de acidentes estruturais, como desmoronamentos e, além disso, falta de medicamentos, sucateamento de seus equipamentos e número reduzido de profissionais comprometendo assim o atendimento da população que deveria ser eficaz e eficiente. A alternativa encontrada pelos gestores para mascarar a ineficiência foi a estadualização com a posterior privatização do atendimento, o que gerou protestos por parte de sindicatos, usuários, acadêmicos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e profissionais da saúde.
Segundo tais entidades, a privatização trata-se da saída mais fácil e cômoda. Os governantes assumem a sua negligência para com a população e incompetência para gerir e, além disso, sabem muito bem e fazem “olhos de mercador” para o fato de que a privatização é uma medida imediatista, que apenas adia o caos do caos, anunciado por sinal. Como dizia um velho desenho animado: “saída pela esquerda”...
Jackelyne Pontes é cirurgiã-dentista, filiada ao Sinodonto-MT (Sindicato dos Odontologistas do Estado de Mato Grosso)
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