domingo, 12 de fevereiro de 2012

Hanseníase em crianças, sinal de epidemia



DIARIO DE CUIABA – SAÚDE

Quando a hanseníase se manifesta em crianças, isso significa que há muitos adultos que escondem ou não sabem que têm a doença

ALECY  ALVES
Da Reportagem

Mato Grosso já é o estado brasileiro campeão em número de casos de hanseníase, o que por si só já demonstra um descontrole em relação a essa traiçoeira doença. 

Mas o diagnóstico recente de hanseníase em crianças demonstra algo pior: mostra que vivemos uma epidemia.
 

Há menos de dois meses um garotinho de cinco anos, morador de Várzea Grande, foi diagnosticado com hanseníase.
 

Ele apresenta lesões em estágio avançado, com inflações nos nervos (das mãos e outros), além de manchas no rosto, braços e pernas.
 

Outro caso que chama a atenção é de uma menina de 12 anos, moradora da zona rural de Campo Verde.
 

Ela recentemente esteve internada por um longo período no Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM) – e a hanseníase já deixou seqüelas que estão sendo combatidas com medicamentos pesados, que causam diversos efeitos colaterais, e sessões de fisioterapia.
 

A paciente está com deficiência renal, atrofias nas mãos (deformidades nos dedos) e manchas e outras lesões no corpo.
 

Esses dois casos chocaram o pediatra José Cabral Lopes, 65 anos, dos quais 40 dedicados à medicina, em especial à saúde pública. Considerado uma das maiores autoridades em hanseníase no Estado, “Dr. Cabral”, como é chamado, se emociona ao relatar o drama de seus pacientes. Ele é chefe do Ambulatório de Hanseníase do HUJM e atua em unidades de Várzea Grande e Rosário Oeste.
 

Cabral destaca que a incidência em crianças aponta para uma epidemia de hanseníase.
 

Ele observa que a criança é contaminada por adulto, o que significa que há muitos adultos com o bacilo em atividade que negam ou sequer sabem que são portadores da doença.
 

Pior ainda, que as crianças estão sendo contaminadas nos primeiros anos da vida, já que essa é uma doença de longo período de incubação, que só se manifesta depois de dois a dez anos.
 

Na avaliação de Cabral, o mais provável é que o menino tenha se contaminado por um parente próximo, no primeiro ano de vida.
 

A família dele aceita a idéia da existência de outros casos, o que aponta, conforme Cabral, a necessidade de uma investigação domiciliar.
 

O mesmo de aplicaria à adolescente de Campo Verde. Entretanto, nessa ocorrência os danos causados pela hanseníase estão relacionados à demora no diagnóstico.
 

Durante pelo menos dois anos, conta, os médicos da região a trataram como se tivesse reumatismo. Por causa dos medicamentos usados no tratamento dos rins, numa tentativa de fazer o órgão recuperar as funções, apesar da pouca idade ela pode parar de crescer.
 

Conforme dados oficiais, em 2011 foram confirmados 152 novos casos em crianças e adolescentes com menos de 15 anos. Líder nacional nas estatísticas gerais de hanseníase há pelo menos 10 anos, Mato Grosso é o segundo em número de casos entre menores de 15 anos.
 

Dos 2.527 novos diagnósticos confirmados em 2011, 152 foram nessa faixa etária, perdendo apenas para o Estado de Tocantins, conforme dados do Ministério da Saúde. Em 2010 o Estado registrou 2.400 casos.
 

Cabral reclama da ausência de ações que realmente priorizem o diagnóstico precoce e o tratamento da hanseníase. Ele acha que é necessário implantar um serviço volante permanente de busca ativa dos pacientes. Não somente para aqueles que abandonam o tratamento, mas para descoberta de novos casos. Caso contrário, diz, a situação tende a se agravar.
 

Para Cabral, não há possibilidade de redução da incidência de 77,89 casos para cada 100 mil habitantes, incidência atual em Mato Grosso, para 1 caso por 10 mil até 2015, como diz uma propaganda do governo federal. Programa prevendo essa meta foi lançado mês passado.
 

“Se me disserem que isso pode acontecer em 2115, posso até acreditar”, completa. Qualquer dedução significativa, diz, demanda pelo menos 20 anos de ações continuadas.

ð EM 2008 A SECRETARIA MUNICIPAL DE SAUDE DE CUIABA  LANÇOU O PROJETO DE INTENSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PARA COTROLE DA HANSENIASE NO MUNICÍPIO QUE INFELIZMENTE FOI ABANDONADO .

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